Do “pescador de imagens”
Entro num Centro Comercial aqui da minha zona para ir a um míni-supermercado comprar pão. Reparo que o ginásio do Centro, que tinha já uns anos largos de vida, fechou. Tudo fecha. No espaço que era do ginásio há agora uma improvisada Feira de Livros onde se mistura o melhor e o pior. No meio das mesas mais ou menos organizadas encontro uma colecção de livros com fotografias, de grandes mestres de sempre, que o Expresso terá promovido/vendido não sei quando.
Cada caixa – um livro, cinco fotos bem impressas para encadernar, custa 3,99 euros. Compro a caixa dedicada a Robert Doisneau, um dos meus heróis. Fotógrafo relevante do Séxulo XX, que descobri adolescente – claro, por causa da famosa fotografia do beijo – mas depois fui redescobrindo, já adulto, em trabalhos publicados na Life, na Paris Match, nos portfolios da Magnum.
Doisneau chamou-se a ele próprio “Pescador de imagens” – e dei por bem pagos os 3,99 euros quando descobri nesta caixa uma fotografia dele que não conhecia. Tirada em 1946, há mais de 60 anos. Não havia digital nem Photoshop nem computadores nem Internet.
Distingue-a de uma fotografia banal os balanços do preto e branco, o enquadramento, o “momento preciso”. Mas, em boa verdade, na essência, o que faz desta imagem uma grande fotografia é a simplicidade de um jogo quase geométrico entre natureza e intervenção humana na natureza. E entre elas, o miúdo que corre, como todos os miúdos - que quando são miúdos, fazem o quê? Correm.
Esta fotografia enche-me um dia. Deixo-a aqui para encher o vosso.