Um paté com lata
Jornalista um dia, jornalista toda a vida – e sem quebrar este principio, que perfilho e com o qual me identifico, confesso: cada vez me interessa menos a actualidade.
Sei do que se passa porque a isso me obrigo (e obriga o trabalho, claro), sigo blogues e programas de debate, não ando fora de nada (agora, até pelo mundo do futebol vou mergulhando, aqui...). Mas a sistemática repetição dos mesmos argumentos em situações opostas (isto é: partido de oposição diz sempre o que dizia partido de governo quando estava na oposição, e vice-versa, em monocórdica e minimal repetição), e verificar que esta regra é aceite por todos, eleitores incluídos, num teatro público de marionetas que roça o ridículo e o absurdo, empurra-me para o bocejo. Ou a sesta.
Ou, quando não tenho sono, a cozinha. Acreditem que ontem à noite, depois de três horas a ver televisão onde pessoas que diziam “adoro verde” agora dizem “adoro amarelo”, enquanto os seus opositores, que no passado amavam o amarelo, agora optam pelo verde, e onde nada ultrapassa a mediocridade da ambição pessoal, da fuga para a frente, do chuto para canto, ou do dizer mal pela frustração de não conseguir fazer bem, fiquei cheio de fome e ocorreu-me a ideia: pão torrado sobre o qual “sucumbe” pasta de sardinha...
Fiz assim, enquanto o pão torrava:
Abri uma lata de sardinhas em lombos, sem espinhas, em azeite (Ramirez, se bem me lembro), a que juntei meio sumo de limão espremido na hora, pimenta preta moída, uma pontinha de sal marinho, maionese (compro uns pacotes frescos excelentes, mas qualquer maionese pré-fabricada serve para este efeito), e salsa por mim picada na hora. Com um garfo, numa tigela, é só ir misturando à mão, provando e rectificando os elementos a gosto.
Por mim, ficou no ponto cinco estrela quando barrei aquela pasta em fatias de pão de Mafra torrado (já tinha uns dias...), plantei meia dúzia de alcaparras e tomate cortado miudinho. Foi a ceia que me tirou deste mundo para outro.
Dormir, depois disso, foi tão fácil...