01
Mar08
O acaso da sincronicidade
À medida que os anos passam sobre nós, tornamo-nos cada vez menos ingénuos – ou melhor, cada vez mais desconfiados. Olhamos uma notícia de jornal e pensamos duas vezes antes de acreditarmos na sua motivação, origem, causa, até mesmo transparência. Por que razão está aqui esta notícia hoje, e não ontem? Por que raio este relatório agora? O que motiva esta informação sobre determinada empresa? O que estará a acontecer para repentinamente todos os jornais falarem deste empresário?
Boa parte do conteúdo editorial dos media submete-se a leis que escapam aos leitores e aos próprios profissionais. Notícias, relatórios, temas, debates, são provocados, estimulados, lançados, apenas porque dão jeito aos seus protagonistas no âmbito de actividades políticas, económicas, financeiras. É o “timing” que determina o sucesso de cada empreitada – e não há, parece, como escapar-lhe. Ou quem lhe queira fugir.
O psiquiatra Carl Jung terá descoberto, ou pelo menos definido, há muitas décadas, o que significa sincronicidade. Uma palavra que os dicionários nem sempre contemplam e que, de forma simplista, se traduz pela probabilidade de haver factos e circunstâncias que (se) sucedem para nos conduzir a um determinado lugar, como se fizessem parte de um guião que predefine a nossa vida. No fundo, a designação que alguns psicólogos encontraram para a expressão popular “não há coincidências” – e que dá muito jeito para explicar o que não se explica ou não se consegue cientificamente justificar. O que Jung não sabia era que, dezenas de anos mais tarde, a sincronicidade fosse a chave da comunicação no mundo moderno. Pode haver blogues e jornais livres e jornalistas absolutamente sérios e impolutos – mas cada vez há menos acasos na actualidade. E, por isso, quando leio uma notícia, qualquer que ela seja, pergunto-me sempre mais do que aquilo que a própria notícia me pode responder. De onde vem? Quem ganha com ela? Quem perde? Quem me traduz o que significa o tempo em que ela aterra nesta página?
A sincronicidade foi descoberta para ajudar os homens a aceitar que nem tudo é determinado pela vontade própria, que não dominamos os mecanismos todos da vida, especialmente aqueles que o nosso inconsciente gosta de manipular. Mas agora, tantos anos depois, a sincronicidade serve para nos baralhar, confundir e atirar areia para os olhos. E parece não servir para mais nada.
Boa parte do conteúdo editorial dos media submete-se a leis que escapam aos leitores e aos próprios profissionais. Notícias, relatórios, temas, debates, são provocados, estimulados, lançados, apenas porque dão jeito aos seus protagonistas no âmbito de actividades políticas, económicas, financeiras. É o “timing” que determina o sucesso de cada empreitada – e não há, parece, como escapar-lhe. Ou quem lhe queira fugir.
O psiquiatra Carl Jung terá descoberto, ou pelo menos definido, há muitas décadas, o que significa sincronicidade. Uma palavra que os dicionários nem sempre contemplam e que, de forma simplista, se traduz pela probabilidade de haver factos e circunstâncias que (se) sucedem para nos conduzir a um determinado lugar, como se fizessem parte de um guião que predefine a nossa vida. No fundo, a designação que alguns psicólogos encontraram para a expressão popular “não há coincidências” – e que dá muito jeito para explicar o que não se explica ou não se consegue cientificamente justificar. O que Jung não sabia era que, dezenas de anos mais tarde, a sincronicidade fosse a chave da comunicação no mundo moderno. Pode haver blogues e jornais livres e jornalistas absolutamente sérios e impolutos – mas cada vez há menos acasos na actualidade. E, por isso, quando leio uma notícia, qualquer que ela seja, pergunto-me sempre mais do que aquilo que a própria notícia me pode responder. De onde vem? Quem ganha com ela? Quem perde? Quem me traduz o que significa o tempo em que ela aterra nesta página?
A sincronicidade foi descoberta para ajudar os homens a aceitar que nem tudo é determinado pela vontade própria, que não dominamos os mecanismos todos da vida, especialmente aqueles que o nosso inconsciente gosta de manipular. Mas agora, tantos anos depois, a sincronicidade serve para nos baralhar, confundir e atirar areia para os olhos. E parece não servir para mais nada.
Ao sábado, reedições. Texto publicado no Diário de Noticias em 2006