Limpezas
Estou ao telefone com M., e depois de descrever parte dos dias deste fim-de-semana, diz-me ela:
“Não há dúvida de que toda a tua vida se resume, neste momento, à ideia de arrumação e limpeza”.
Fiquei a pensar, claro.
Gostei do princípio: arrumação e limpeza. Depuração. Não gosto do que lhe está subjacente: eliminação, pureza, vida asséptica.
Porque gosto dos acasos que o caos sempre convoca. E gosto de acreditar que se pode tropeçar literalmente num molho de revistas que nos devolve em troco a ideia que perseguíamos.
Porque não gosto da pureza no que às pessoas diz respeito: gosto de marcas, gosto de vida.
Por fim, porque sempre que arrumo e limpo, percebo que ainda me falta viver uma imensa lista de sonhos e vontades e ideias que acumulei em pastas, dossiers e cadernos de apontamentos. E tenho menos tempo do que aquele de que precisarei, o que me angustiará.
Então, para matar a angústia, interrompo tudo e vou experimentar uma receita, ou uma nova sanduíche (agora ando com a mania da mistura de manjericão fresco com cebolinho nas sanduíches, e vou atrás dos “condutos” onde as ervas assentam bem...).
Depois volto ao que resume a minha vida nestes dias. Já deverei ter adormecido a angústia, até encontrar o próximo inesperado molho de papeis velhos...
PS - Deixo-vos algumas imagens sem legendas – para que percebam como pode ser fascinante remexer nas coisas que vou juntando, juntando, juntando...