O jeito das frases
Pode constituir afronta a um ou outro intelectual que por engano aterre aqui no blog, mas cá vai: gosto muito de aforismos. Frases feitas. Ditados populares. Sou capaz de estar horas a ler citações nos dicionários da especialidade. É preciso mestria e saber para conseguir a redução ao mínimo de uma ideia eventualmente profunda, com elegância e em formato de “estocada”. Essa feliz conjugação dá geralmente óptimos resultados.
(Sejamos claros: gosto de citações, mas não gosto nada daquelas figuras pretensamente sábias que vivem a citar outras, cuja opinião depende da soma de aforismos que conseguem para uma só ideia. Os comentadores amigos do alheio, como lhes chamo...)
Ora, ainda em maré de arrumações reencontrei, nesse capítulo, um dos meus livrinhos favoritos: “O Melhor do Mau Humor”, uma “antologia de citações venenosas” assinada por esse mestre superior do jornalismo brasileiro que é Ruy Castro (quem goste de Música Popular Brasileira tem de ler “Chega de Saudade” e “Ela é Carioca”, dois livros notáveis que Castro “compôs” e que são música pura para os olhos...).
Ruy Castro seleccionou, por temas, 500 frases cuja ironia, sarcasmo, maldade, ou puro humor negro, nos obrigam a sorrir mesmo que estejamos em profundo desacordo com o que traduzem. Como sucede comigo e com esta frase de Óscar Wilde - “A bigamia consiste em ter uma mulher a mais. A monogamia é a mesma coisa”. Gosto “na mesma”.
Estava a passar as páginas à solta pelo livro quando deparei com a categoria “jornalismo”. Lembrei-me logo de José Sócrates. Do Governo. E de como lhes podem ser úteis estas citações que escolhi a preceito para uso livre de ministros, secretários de estado, e por aí fora:
Primeira: “Um editor de jornal é alguém que separa o trigo do joio – e imprime o joio” (Adlai Stevenson)
Segunda: “Primeiro, apure os factos. Depois, pode distorcê-los à vontade”. (Mark Twain)
Terceira: “Sou a favor da imprensa livre. O que não suporto são os jornais”. (Tom Stoppard)
Quarta: “O jornalismo moderno tem uma coisa a seu favor. Ao nos oferecer a opinião dos deseducados, ele nos mantém em dia com a ignorância da comunidade” (Óscar Wilde)
Quatro citações que generalizam o que não se pode generalizar – mas me deixam com um sorriso ligeiro e aquela pose tentadora: “É que pensando bem...”.
Ao Governo, nesta fase da legislatura, dão cá um jeitaço...