Mais uma década
Fui bem enganado: quando entrei nos 40, em 2004, o país era verdadeiramente excepcional e o futuro não era apenas oferecido, era garantido. Exceptuando o sempre visionário Vasco Pulido Valente, que se fartou de avisar que ía acabar mal, toda a gente hiperventilava com este Portugal cheio de presente e de futuro. O país vibrava. Com a Selecção Nacional, que jogava como o caraças; com o que ficara da Expo-98, uma espécie de país moderno em tempo recorde; com o Rock in Rio; com ideias que se podiam concretizar se porventura as tivéssemos – e bastava tê-las, imagine-se!
Em 2004 eu fazia edições do DNA, suplemento do DN, só com fotografias. Ou dedicava cadernos de 32 páginas a reportagens sobre a Índia. Publicava textos de 30 mil caracteres de P.J. O’Rourke e ninguém se queixava. Queria publicar um livro, publicava. Queria fazer televisão, fazia. Queria viajar, lá ía eu.
Em 2004 ainda havia espaço para inventar o Facebook. Em 2004 era tudo tão loucamente possível que até Pedro Santana Lopes conseguiu tornar-se primeiro-ministro.
O problema foi a seguir: o 2006, 0 2007, o descalabro até aos dias de hoje. Entrei nos 40 a bombar, com a certeza de ter uma década de sonho pela frente. Entro de rastos no derradeiro ano da (minha) década. A profissão que escolhi está pelas ruas da amargura, o país está falido (e eu com ele...), o horizonte é pouco menos que negro. Até o corpo se ressente e não parece ser o mesmo.
Fui bem enganado. Se eu soubesse tinha ficado nos 30...
Mas não dá. Tenho então de me despedir dos quarenta, já agora o melhor possível. Começou hoje. Vamos lá a isto, então.