O que me comove
Há poucas semanas recebi um mail de Luis Pereira que dizia assim: “Boa Noite, Pedro. Há dias, a ouvir o Hotel Babilónia em pleno Alentejo, sobre "O" Vinicius, senti-me profundamente em divida consigo pois prometi-lhe há um par de anos um álbum sobre o DNA que nunca lhe enviei (…). O álbum continua ali, pronto a enviar. Só lhe pergunto se mantém a mesma morada, que gentilmente me facultou, de forma a poder retribuir os bons momentos de leitura e companhia que me tem proporcionado”.
Confesso que a minha memória galinácea me impediu de lembrar com rigor o contacto anterior que teria havido com Luis Pereira, ainda que uma campainha qualquer tivesse tocado. Por isso, não hesitei em dar-lhe a morada actualizada. Uns dias depois, recebi em casa um álbum fotográfico cuja ideia é aquela que escassamente (porque o album é de uma riqueza absolutamente devastadora…) aqui vos mostro: fotografias do DNA - suplemento que criei e dirigi, durante 10 anos, entre 1996 e 2006, no Diário de Notícias - nos mais diferentes lugares de Portugal e do Mundo, nas situações mais díspares, umas mais humoradas e irónicas, outras a deixar-nos pensar no que é realmente essencial na vida. O Luis Pereira, que é um profissional dos aviões e por isso anda pelo mundo fora, deu-se ao trabalho de levar o “meu” DNA (… e da Sónia, e do Luís, e do Augusto, e da Carmo, e do Paulo, e enfim, de tantos…) com ele, e ir tirando fotografias, analogicamente, à antiga, para “memória futura”.
A “memória futura” foi este album – que me encheu de emoção, que me comoveu, que me deixou sem palavras. O jornalismo, quando é feito com amor e paixão, é sempre recíproco e dá frutos que estão bem para lá da audiência de cada dia. Essa lição, que o DNA me deu (como a K e até O Independente), faz-me olhar para a realidade actual do jornalismo com uma interrogação permanente: é apenas uma crise dos media e do mercado, ou é uma crise de amor e paixão pelos media e pela forma como se exerce esta profissão nos tempos 2.0?
Não pretendo responder, mesmo tendo a resposta na ponta da língua. Mas as imagens que o Luis me enviou, num álbum comovente e cheio, respondem por mim. Disso tenho a certeza. E por isso estou grato, muito grato, ao Luís Pereira.