A eterna Alemanha
Há qualquer coisa de fascista na ideia de que a criação de um salário minimo nacional na Alemanha vai aumentar o desemprego e a falência de pequenos negócios locais.
De facto, é verdade: cabeleireiros e oficinas onde se paga actualmente 1,5 euros por hora de trabalho vão ver dificultadas as suas vidas. Mas seria razoável que esta novas forma de exploração se perpetuasse? Seria natural – já nem vou ao ponto de dizer justo... - que um país com o custo de vida da Alemanha, com a atitude da Alemanha face ao resto da Europa, e com o seu passado recente (que, por menos que queiramos, sempre nos deixa debaixo de olho), aceitasse sem qualquer espécie de vergonha ou constrangimento esta “democrática” escravatura? 60 euros de ordenado por semana?
Observo a austeridade portuguesa, leio as noticias que chegam da Alemanha, vejo o estado de Espanha, França, Itália. Não consigo deixar de pensar que tudo se desenha em cima de um mapa onde vivem pessoas. Somos todos seres humanos – mas agora, como no começo do século XX e em plena II Guerra Mundial, persiste a lei das pessoas com direito à vida sobre a lei das pessoas sem direito à vida.
Cresci a pensar que viveria numa sociedade onde os seres humanos eram iguais em liberdades, direitos e deveres. A seis meses da minha (excessivamente optimista) metade de vida, vejo que pouco mudou.
O exemplo da Alemanha é apenas o mais simbólico.
Há uma minoria que ainda não aceitou a mais rasa das ideias do mundo democrático: ela é igual à imensa e (quase sempre) silenciosa maioria. Algo me diz que vai aprender à força. Mais dia, menos dia.