2013
Por acaso sempre gostei do número 13. Nunca o vi como aziago ou menos feliz. Não me ocorrem más memórias em dias 13, sextas 13, e vivi num prédio que ostentava esse numero na porta.
Quando este ano começou, achei que o 13 ia convocar a sorte que contraria a sua fama - e acreditei que ia ser um ano bom.
Não foi. Foi uma bela merda.
Portugal deprimiu ainda mais, a política viveu de folhetins, mentiras e farsas, e cavalgou sobre estatísticas e números, como se os números traduzissem realidades: todos sabemos que, no universo constituído por mim e pelo leitor, se eu comer uma galinha inteira, estatisticamente cada um de nós comeu meia. A estatística, no que à vida diz respeito, é a maior falácia da sociedade moderna. É a droga pesada da política: distorce a realidade à medida do desejo de quem a usa, e cria universos paralelos que servem as maiores mentiras que se queiram dizer.
O pior é que toda a gente sabe disso - mas, ainda assim, usa os números sempre que dá jeito. Uma pobreza sem fim. O debate - e por essa via a informação que circula - está viciado, e o país está bem pior do que a maquilhagem que os números aparentam. Só quem não anda na rua pode acreditar nessa mentirinha.
Confesso: não distingo governo de oposição, esquerda de direita, “classe dirigente” de sindicalistas. Vejo uma amálgama de discursos interessados e interesseiros, vejo becos sem saída e sinto o pântano ganhar a dimensão do país. Ou seja: não vislumbro saída.
A um 13 desta natureza só pode suceder um 14 luminoso? Tudo indica que não. Mas há, dizem os psicólogos, uma criança dentro de todos nós - e nessa medida, a criança que há dentro de mim quer acreditar, ingénua mas sinceramente, que sim, que pode ser que o novo ano traga revelações. Ou pelo menos conforto.
Ou menos gente triste e sem lágrimas nas ruas cinzentas do país que, há 40 anos, sorriu e gritou, depois de tantos anos de boca cerrada e em silêncio. “Vamos ver”, como tenho ouvido.
Volto em 2014.