Um Inverno demasiado longo
A memória de Eusébio que ontem aqui deixei remeteu-me para um tempo profissionalmente feliz, que correspondeu também ao tempo de todas as esperanças em Portugal. Estávamos em 1997.
Portugal viveu a ilusão da convivência mais improvável: a que nos trazia do passado Eusébio, mas também Amália, ou empresários com o espirito de Ricardo Espirito Santo - e depois o presente, que eram travessas de dinheiro quente da Europa, e ainda um futuro em que seríamos certamente ricos como os alemães, educados como os suíços, e divertidos como os espanhóis.
Nada disso aconteceu.
No momento em que morre Eusébio, vejo na sua anunciada morte - que me deixa lágrimas nos olhos por comover todo um país, e boa parte do mundo, e garantir ao Benfica um legado eterno - um sinal do tempo que vivemos. Um tempo em que os mitos se esfumam, os heróis passam de humanos a estátuas, e a esperança se desfaz em pó.
Resta a vontade e o sonho. E eu faço parte dos que ainda têm vontade e sonhos.
Mas não deixo de associar a tristeza pela morte de Eusébio a este demasiado longo Inverno que vivemos sem dó nem piedade. Se vivesse na pequena aldeia gaulesa, perguntaria quando é que o céu nos cai em cima da cabeça. Como não vivo, adopto a pergunta antiga da TV: que mais nos irá acontecer?