20
Mar08
Em mudanças (III)
Antes da revista nascer, a pedido expresso dos nossos patrões suíços, encomendámos a empresas da especialidade diversos estudos que nos ajudariam a fazer com ferramentas privilegiadas o primeiro newsmagazine profissional que Portugal conhecia em muitos anos. Os estudos diziam respeito ao formato da revista, áreas de abordagem hierarquizadas, tipos de capa e assuntos de interesse, figuras e casos em foco, enfim: tínhamos na mão um conjunto de tijolos muito generoso que garantia uma casinha bem construída...
... E lá fomos pensando, planificando e criando a nova revista. Estranhámos – pelo menos, o Cáceres Monteiro e eu – que no primeiro lugar dos temas que os potenciais leitores desta revista queriam ver abordados estivesse... o ambiente, a ecologia. O primeiro. À frente dos óbvios “televisão”, “sexo”, “crime”. Muito à frente. Estranhámos mas não ignorámos – e encomendámos a uma equipa de especialistas (que eu tinha conhecido no CM-Rádio, de boa memória...), um levantamento exaustivo do estado do ambiente em Portugal, identificando o melhor e o pior, casos críticos e exemplares, um verdadeiro mapa do ambiente de Portugal. Desenhámos esta capa elegante. E lá foi para as bancas, a 3 de Junho de 1993, a “Visão” que espelhava o tema mais desejado pelos seus potenciais leitores.
Facto: foi a edição menos vendida de sempre da revista, abaixo da incomportável fasquia dos 30 mil exemplares.
Nesse momento eu percebi o que queria dizer a expressão “resposta politicamente correcta”. Nunca mais dei aos estudos a relevância que eles “gostam” de ter. E nunca mais acreditei na facilidade com que os portugueses dizem que lêem este jornal em vez daquele, ou bebem esta cerveja e não a outra.
Estudar, sim – mas devagar. E bem, que é coisa rara.
PS – Adenda ligeirita: de entre os “temas” que enfastiavam os portugueses consultados nos nossos estudos (achavam que já havia revistas demais dedicadas à matéria...), estavam as “figuras da TV”. Evitámo-las durante algum tempo. Mas a verdade é que no primeiro ano da “Visão” estavam no top ten das capas mais vendidas a Manuela Moura Guedes (versão deputada...) e o Carlos Cruz (“História dramática de um homem de sucesso”, o carcinoma nas cordas vocais). Tudo a bater certo...