Delírios suaves
Cartas das Finanças que não estranharei se porventura me chegarem:
Inquérito sobre os lugares onde compro jornais e revistas, por que raio compro tantos todos os dias, onde guardei as facturas, o que quer dizer “Rita:91123456” nas costas daquela factura da FNAC, onde está o Correio da Manhã de 27 de Dezembro a que corresponde esta factura, por que motivo não apresento facturas comprovativas da aquisição do jornal “Meia-Hora”.
Pedido de relatório sobre o uso da Bimby: facturas detalhadas das cenouras, batatas, cebolas, manjericão, pimento, tomate, azeite e água gastos na confecção do famoso “creme de legumes PRD-B”; número de horas de uso anual da máquina e estudo da viabilidade económica da mesma: números dos cheques pré-datados usados na compra da Bimby no ano 2005.
Requerimento simples: comprovativos (mesmo que apenas talões de caixa) da compra diária de 3 maços de Marlboro Lights entre 1976 e 2006. Se possível, morada e telefone dos fornecedores.
Além destes documentos de prova, espero que me peçam em breve para demonstrar que preciso de usar óculos, que o cabelo me cresce a uma velocidade que me obriga a ir ao barbeiro de dois em dois meses, que apesar dos meus conflitos com o IKEA vou lá de propósito comprar aqueles guardanapos de papel enormes, que sou um bocado distraído e por isso tinha alguns livros e discos repetidos (porque me esqueci que já os tinha comprado), e decidi oferecê-los. Ah, e uma explicação bem explicadinha sobre a minha vida amorosa. Factura também?
É verdade: a razão pela qual comprei ontem, outra vez, um requeijão de Seia, foi porque o prazo de validade do outro expirou e tive receio de comer. Nessas coisas sou implacável. Eu sei que foi o terceiro requeijão em 15 dias, e isso pode levantar suspeitas, mas um dos requeijões levei para um jantar de amigos. De qualquer forma, guardei os comprovativos.
O telefone novo? Foi comprado com os pontos da TMN. Sim. Só paguei 40 euros. Tenho o comprovativo.
Casamento? O meu? Foi em 1994. Talvez tenha qualquer coisa num desses caixotes ali ao lado da cozinha. Vejam à-vontade.
PS: Agora a sério: por que não juntar o fisco com a ASAE? Não?