28
Mar08
Restos da mudança...
Em 1977, entrei para a UEC (União dos Estudantes Comunistas), cheio de vontade de mudar o mundo e transformar Portugal numa sociedade sem classes, onde todos seríamos iguais em igualdades, direitos e deveres.
Pina Moura era o líder mais temido na organização. Zita Seabra estava a fazer a transição da UEC para o PCP, mas ainda mandava muito. Geninha Varela Gomes era a minha referência diária. Os Trovante ensaiavam ser um grupo. Miguel Portas ensinava-me o bê-a-bá do marxismo-leninismo. Eu divertia-me muito na juventude do PCP. Como era um militante aplicado, rapidamente fui promovido e tornei-me um potencial “quadro do partido”. Não tardou até ser “controleiro da célula” do Liceu de Camões.
Aos 15 anos, percebi que nunca tinha sido comunista e que tudo não passara de um terrível equívoco onde se misturavam referências familiares, um irrepreensível amor ao 25 de Abril, e um conjunto de namoradas e potenciais namoradas resultantes de uma adolescência precoce. Arrepiei caminho quando dei comigo a ameaçar rasgar o cartão de militante porque não serviam – a mim e à namorada de então – um “cuba livre”, em plena “Festa do Avante”, depois da uma da manhã. A mim?!
Revoltei-me, claro. Percebi que tinha da igualdade uma ideia demasiado liberal. Vagamente selvagem. Um tudo nada pequeno burguesa sem sequer a fachada socialista. Enfim, estava fora.
E fui à minha vida.
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O que “eles” nunca souberam foi que o primeiro livro que li na militância activa, aconselhado por um “camarada” meu amigo (e com o apoio de uma “camarada” que devia gostar de miúdos novinhos), foi o clássico “Cabra Cega”, de Roger Vailland (no original, “Drôle de Jeu”). Explicaram-me sumariamente o que era um libertino e eu gostei da ideia.
Agora, a arrumar a prateleira da letra “R”, encontro uma página marcada no velho livro a desfazer-se, e um parágrafo sublinhado:
“Política e empresa amorosa tinham a sua bela aliança – primeira nota a fixar na análise do «jogo por dentro». Segunda nota, corolário da primeira ou vice-versa: a felicidade individual requer planificações políticas amplas e ambiciosas. O burocrata, o carreirista da governação ou o legislador provinciano têm pavor aos projectos vastos”.
Lá está. Eu entrei no tempo certo, mas no partido errado.
E nunca mais encontrei um partido certo, nem sequer num tempo errado...
Pina Moura era o líder mais temido na organização. Zita Seabra estava a fazer a transição da UEC para o PCP, mas ainda mandava muito. Geninha Varela Gomes era a minha referência diária. Os Trovante ensaiavam ser um grupo. Miguel Portas ensinava-me o bê-a-bá do marxismo-leninismo. Eu divertia-me muito na juventude do PCP. Como era um militante aplicado, rapidamente fui promovido e tornei-me um potencial “quadro do partido”. Não tardou até ser “controleiro da célula” do Liceu de Camões.
Aos 15 anos, percebi que nunca tinha sido comunista e que tudo não passara de um terrível equívoco onde se misturavam referências familiares, um irrepreensível amor ao 25 de Abril, e um conjunto de namoradas e potenciais namoradas resultantes de uma adolescência precoce. Arrepiei caminho quando dei comigo a ameaçar rasgar o cartão de militante porque não serviam – a mim e à namorada de então – um “cuba livre”, em plena “Festa do Avante”, depois da uma da manhã. A mim?!
Revoltei-me, claro. Percebi que tinha da igualdade uma ideia demasiado liberal. Vagamente selvagem. Um tudo nada pequeno burguesa sem sequer a fachada socialista. Enfim, estava fora.
E fui à minha vida.
O que “eles” nunca souberam foi que o primeiro livro que li na militância activa, aconselhado por um “camarada” meu amigo (e com o apoio de uma “camarada” que devia gostar de miúdos novinhos), foi o clássico “Cabra Cega”, de Roger Vailland (no original, “Drôle de Jeu”). Explicaram-me sumariamente o que era um libertino e eu gostei da ideia.
Agora, a arrumar a prateleira da letra “R”, encontro uma página marcada no velho livro a desfazer-se, e um parágrafo sublinhado:
“Política e empresa amorosa tinham a sua bela aliança – primeira nota a fixar na análise do «jogo por dentro». Segunda nota, corolário da primeira ou vice-versa: a felicidade individual requer planificações políticas amplas e ambiciosas. O burocrata, o carreirista da governação ou o legislador provinciano têm pavor aos projectos vastos”.
Lá está. Eu entrei no tempo certo, mas no partido errado.
E nunca mais encontrei um partido certo, nem sequer num tempo errado...