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Pedro Rolo Duarte

20
Nov07

Tempo perdido

Ouvia na rádio qualquer coisa sobre Fausto, porque fazia 25 anos que tinha sido lançado o disco “Por Este Rio Acima”. Passaram duas canções desse trabalho e a música “enviou-me” para o ano de 1982 - justamente quando comecei a trabalhar, escrevendo sobre música num suplemento juvenil do “Correio da Manhã”. Lembro-me de tudo o que se disse sobre esse álbum de Fausto: que era um trabalho de génio, que ia figurar nos discos mais importantes da História, que era o herdeiro/continuador de José Afonso, ou mesmo o seu futuro. Nesse tempo, eu já gostava de Rui Veloso e Trovante , mas estava atento ao que diziam os “colegas” mais velhos e admitia que eles tivessem razão.
Vinte e cinco anos depois, oiço aquelas cançonetas estridentes de Fausto e sorrio. Reciclando um clássico: manifestamente, anunciaram o seu nascimento fora do tempo. Ou sem que afinal tenha ocorrido. Nada de grave: eu tenho um longo currículo de declarações solenes sobre a relevância de bandas absolutamente abaixo de cão.
Felizmente os anos passam não apenas para nos sentirmos mais velhos, mas essencialmente para nos enganarmos menos.
Ligo o I-Pod às colunas para ouvir uma canção realmente genial. Já era há 25 anos. Só a descobri há quinze. O tempo que eu perdi...
“Era um redondo vocábulo
Uma soma agreste
Revelavam-se ondas
Em maninhos dedos
Polpas seus cabelos
Resíduos de lar,
Pelos degraus de Laura
A tinta caía
No móvel vazio,
Congregando farpas
Chamando o telefone
Matando baratas
A fúria crescia
Clamando vingança,
Nos degraus de Laura
No quarto das danças
Na rua os meninos
Brincando e Laura
Na sala de espera
Inda o ar educa”.
Leio o poema de José Afonso e canto-o. Como se nunca tivesse tido outro destino. Outro lugar. Outra forma de se dizer.

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