Um rico país
Quando abri a programação do mês do Museu Nacional de Arte Antiga senti “mixed feelings” sobre o que queria encontrar: uma Noite dos Museus como a que Dalila Rodrigues organizava – mas sem ela, sem o seu dinamismo, sem o seu trabalho, sem o seu espírito aberto? Ou uma Noite dos Museus cinzenta, taciturna e sem graça, deixando essa saudade dos tempos de Dalila e permitindo o “lá está, quem vem depois dá cabo de tudo o que foi feito antes”?
Por um lado, defendo que as boas ideias devem ser seguidas mesmo depois dos seus autores delas se afastarem; por outro, há ideias, neste caso acontecimentos, que marcam de tal forma uma determinada gestão, um determinado tempo, que talvez deixem de fazer sentido nos tempos seguintes.
Podia ficar aqui a teorizar todo o dia sobre isto, mas não adianta...
A verdade é só uma: a Noite dos Museus que transformava a Arte Antiga numa festa para a vista e os sentidos, noite fora, no jardim do MNAA, acabou. A luz apagou-se. No seu lugar surge, a 17 de Maio, um jantar mediante inscrição paga, visitas guiadas até á meia-noite e vinte, inaugurações, e um concerto de música clássica. À uma da manhã o MNAA transforma-se em abóbora e fecha. É todo um outro conceito, portanto. Toda uma outra forma de entender a arte: de novo fechada sobre si própria e os seus, de novo só para quem pode, de novo recatada e invisível.
Tenho a certeza que, a 300 quilómetros de distância, e apesar de feliz na Casa da Música, Dalila Rodrigues não sorri ao ver esta programação. Um ano depois, o seu trabalho foi pelo cano, ela tem mais razão do que já tinha, e a cultura vive mais pobre...
Vivemos na ironia do paradoxo.
... Que sábio e rico Portugal este, que se pode dar ao luxo de dispensar os seus melhores e o trabalho, as ideias e o talento de que dispõem. Dalila Rodrigues é só um exemplo. Infelizmente, há mais, muito mais.