Outro coelho na cartola
Eu bem dizia aqui que não havia de ser a última... A produção do programa “Prós e Contras” precisa urgentemente de ajuda para substituir o tal Carlos Coelho quando quer alguém que fale de marcas e de imagem... Além de chamar “coisas” a sentimentos, ideias, factos, casos, acontecimentos, enfim, chamar “coisas” a tudo, é o campeão da frase-feita, do lugar-comum, do conceito fast-food aplicado às ideias: um exemplo, areia para os olhos, uma conclusão definitiva. Desta vez, porém, a inteligência dos restantes convidados reduziu Carlos Coelho à sua insignificância e revelou o bluff que constitui. Foi triste – mas lá está, alguém tinha de o fazer algum dia. Espero que a Fátima Campos Ferreira tenha percebido.
No entanto, a noite da RTP-1 não foi perdida. Este Prós e Contras (tema: “Futebol: alienação ou coesão nacional”), revelou-me o mais estimulante comentador televisivo desde Pacheco Pereira. Dizem-me que aparece regularmente na RTP-N (o canal de cabo que junta informação e modernidade nos tempos que correm), mas foi esta noite que o vi pela primeira vez. O nome dele é Carlos Abreu Amorim. Um bom pensador que sabe passar a mensagem. Raro.
A televisão é um meio que nem sempre se domina, por mais genial que se seja – as câmaras não querem saber da alma, e a luz ignora o contraste. A televisão é cruel para com as ideias. Não basta ser bom, saber o que se quer dizer, ser afirmativo. Em televisão, a imagem conta mais do que o conteúdo, qualquer que ele seja - e só mesmo a boa imagem, ou a empatia, vencem todas as lentes e antenas. Fazer o pleno da imagem, da empatia e das ideias é, assim, uma espécie de lotaria.
Carlos Abreu Amorim ganhou a taluda. Tem esse dom. É organizado no discurso, claro e perceptível, e tem uma imagem que inspira confiança. A sua convicção nunca transpira agressividade – mas nem por isso deixa de ser assertiva e sólida. Consegue um raro equilíbrio entre todos os factores que constroem um comunicador por excelência. Entre profissionais diz-se deste tipo de pessoas que “passam bem”. Carlos Abreu Amorim “passa” mesmo muito bem. Se eu mandasse numa das quatro televisões generalistas, roubava-o à RTP-N e contratava-o já. O futuro do debate politico passa por ele.