A ASAE, capitulo 1458
Há uns anos, e depois do clássico domingo anual em que me esqueci (obrigado pela correcção) de que já é Junho, o Benfica joga às 19:45, e estão 32 graus, e fiquei duas horas entalado numa fila para sair de uma praia, aprovei por unanimidade uma nova lei: entre o dia 9 de Junho e o dia 30 de Agosto, praias do lado esquerdo da Costa da Caparica, nem pensar, qualquer que seja o dia da semana. Não se arrisca, ponto. Contei isto numa crónica de jornal e recebi uma simpática carta de um leitor que me dava instruções rigorosas sobre como chegar e sair sem mácula de algumas praias da Costa. As do lado direito, isto é, as de S. João. Não eram apenas as praias que me estava a revelar o leitor – eu sabia que existiam, nunca me tinha dado ao trabalho de as conhecer -, mas especialmente o percurso alternativo de regresso a Lisboa.
Desde aí, a minha qualidade de vida no Verão aumentou brutalmente. Dou-me ao luxo de “dar um saltinho” à praia a meio da tarde, vou e volto quando quero, e nunca mais sofri o horror do “regresso da Costa”.
Entre outras mordomias e prazeres – bares excelentes, bom ambiente, areia limpa – aquele conjunto distingue-se por ter um acesso dificultado. Ou se paga o estacionamento, dado o terreno de acesso às praias ser privado, ou então é preciso caminhar a pé um bom bocado até chegar ao areal. Isso também ajuda a manter alguma contenção na ocupação do espaço vital.
Portanto, assunto arrumado: no Verão, quando me falta a paciência para voos mais longos até Alfarim ou mesmo a Comporta, as praias de S. João constituem o meu poiso habitual. Este ano, quando o sol finalmente deu sinal de vida, lá fui – mas notei que algo havia mudado. No parque de estacionamento, em vez de um preço fixo, pago à entrada, encontrei o esquema da senha que se tira e da tarifa ao minuto. Estranhei, primeiro. Depois sofri: na hora de sair da praia, estive 20 minutos para pagar numa fila em tudo igual àquelas que me levaram a abandonar as praias do lado esquerdo da Costa. Pensei: estes tipos conseguiram o supremo crime de destruir uma das maiores vantagem que tinham – justamente o acesso friendly e rápido. Estendi teorias sobre a capacidade dos portugueses de darem tiros nos pés, comentei em todo o lado o absurdo, admiti que a mudança tinha um fito evidentemente financeiro. Ganhar mais, só podia.
Venho agora a saber, depois de muitos fins de dia de martírio para os frequentadores daquelas praias, em filas intermináveis para pagar valores irrisórios, que a mudança no sistema de cobrança do parque das praias de S. João se deve a uma visitinha... da ASAE!
Assim, para cumprir a lei e justamente pagar 2,90 euros ao invés de 3 euros, ou 3,25 euros, em vez dos injustíssimos 3 euros, o veraneante aguenta estoicamente e sem reclamar uns 20 ou 30 minutos na fila. E assim se explica porque raio nós - eu, e outros eu’s que conheço -, deixámos de ver em S. João a boa alternativa de Verão em Lisboa. Mais uma vez obrigado, sr. Nunes.