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Pedro Rolo Duarte

26
Nov07

Bom vento (de Espanha, claro)

Leio atentamente os comentários que se fazem aos textos que escrevo (por principio, respeito-os: não respondo nem apago, apesar de alguns insultos ou insinuações baixinhas). Leio os comentários que se fazem a textos de outros blogues. Leio os outros blogues, muitos, dezenas, centenas.
Noto um traço frequente: indignação. Escreve-se muito quando se está indignado, quando se quer criticar, lamentar, protestar. Escreve-se para insultar, ofender ou apenas “tirar a barriga de misérias” no que diz respeito à frustração e à tristeza mais triste do mundo, que é a terrível solidão e o decorrente silêncio das paredes. Escreve-se para dizer mal, para desconfiar, para duvidar, para denunciar. Ontem, disse bem do Expresso – logo pairou a desconfiança sobre as minhas reais intenções. Ou seja: mesmo quando alguém diz bem, parece estranho o fenómeno e especula-se sobre as razões lunares de tal facto.
E hoje?
Hoje eu vou dizer bem outra vez. Vou dizer que gostei de chegar à página 70 do jornal espanhol ABC e ler assim: duzentas famílias de Badajoz compram casa em Elvas. Os preços são mais baixos, a qualidade de vida é recomendável. O Presidente da Câmara de Elvas declara ao jornal: “Para nós não existe fronteira, convivemos de todas as formas, e tal como há cidadãos de Elvas que vivem em Badajoz, é normal que muitos ‘extremenhos’ decidam instalar-se aqui”. O IVA é mais alto deste lado, tudo o resto é mais barato. Compensa. A compra de casas em Elvas por espanhóis, diz o ABC, salvou o negócio imobiliário local. Anima a economia da região. A Câmara admite agora pensar na abertura de uma escola para os meninos espanhóis cujos pais decidiram atravessar a fronteira.
De Espanha vem bom vento. Por mim, casamento. Menos indignação e mais acção. “Menos ais”, como dizia a canção. Se eu acordasse de alguma forma, talvez acordasse assim. Sem acidez no estômago nem veneno e destilar.
Este blog hoje acorda em Elvas.

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