Na arena
“A operação de cedência de créditos fiscais e da Segurança Social ao Citigroup, realizada por Manuela Ferreira Leite enquanto ministra das Finanças do Governo PSD/CDS-PP, está a ficar cara ao Estado: dos 11, 44 mil milhões de euros cedidos ao Citigroup em 2003, mais de 3,74 mil milhões foram substituídos por outros créditos cobráveis dos anos seguintes. Com esta substituição, o Estado cedeu ao Citigroup um montante total de créditos de cerca de 15,2 mil milhões de euros.
Ao que o CM apurou, o montante dos créditos fiscais substituídos apanhou de surpresa o Governo de José Sócrates, dado que Ferreira Leite garantira na altura, que a taxa de substituição desses créditos não seria superior a um dígito. Em vez de uma taxa de substituição inferior a dez por cento, o negócio com o Citigroup acabou por traduzir-se na substituição de 33% do total de créditos cedidos àquele grupo financeiro norte-americano. E esta taxa de substituição é mesmo superior à previsão do Instituto para o Desenvolvimento e Estudos Económicos, Financeiros e Empresariais (IDEFE), do ISEG, entidade contratada por imposição do Eurostat para fazer uma avaliação independente da carteira de dívidas: o IDEFE previu que 19% dos créditos transferidos não eram cobráveis”.
O que desta notícia resulta é o final antecipado de uma imagem, de uma postura, e de uma atitude. Em resumo, de uma liderança e presumível alternativa.
Manuela Ferreira Leite não quis afirmar-se pelo marketing e pela comunicação. O marketing e a comunicação encarregaram-se de aproveitar essa sua “deixa”.
Manuela Ferreira Leite talvez tenha presumido que unira o PSD. Basta uma vista de olhos aos blogues social-democratas e/ou próximos, para sentir e ouvir o chiar das facas afiadas...
Manuela Ferreira Leite não quis entrar no reino do confronto pela imagem e pelo soundbyte – serão justamente a imagem e o soundbyte a determinar o futuro político da líder do PSD.
A lição destes dias é a mais óbvia de todas: não se pode entrar na arena do circo sem a técnica do malabarista, a sabedoria do domador, e a graça do palhaço. Infelizmente, foi aqui que a política chegou.
Como costumo dizer, se aqui chegou, foi por via democrática: votaram neles. Agora aturem-nos.