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Pedro Rolo Duarte

29
Set08

A minha alegre casinha

Se eu soubesse como assim se escreve, escreveria sobre o caso das casas na Câmara de Lisboa como ontem escreveu Vasco Pulido Valente no “Público”. Depois de o ler, o que queria escrever ficou redundante e a sua crónica tornou-se o meu post. Com a devida vénia:

«Por mais que se mude, não se mudam os portugueses. Vem isto a propósito do novo "escândalo" da Câmara de Lisboa. Parece que, desde o começo do regime, a Câmara de Lisboa resolveu (por razões que excedem o entendimento) "atribuir" casas a quem lhe apetece. Até agora já "atribuiu" de 3200, com uma renda média de 35 euros. Pedro Feist, vereador de Aquilino Ribeiro Machado a Carmona Rodrigues, não vê nada de extraordinário nisto: é uma "realidade histórica", explica ele, como se a duração do abuso o justificasse. Ele mesmo "meteu uma cunha" ao "seu colega da habitação" para um motorista que morava na Curraleira e acha a coisa "perfeitamente humana". Toda a gente, de resto, fazia o mesmo, com a mais tranquila consciência. A título de caridade oficial ou particular.

Amigos da vida ou do partido, artistas, jornalistas, família, família de família, protegidos desta ou daquela personagem política, que não convinha directa ou indirectamente ofender ou era conveniente afagar iam à câmara "pedir" e a câmara dava. Dava, com generosidade e simpatia, património público. Não havia regras. Quem apanhava, apanhava; e quem não apanhava que fosse bater a outra porta. A câmara, no seu desinteresse, nem sabe ao certo quantas casas tinha (ou tem) na "bolsa" com que alimentava, e alimenta, o arbítrio e o compadrio. Existe um estudo que ela própria encomendou, mas que nunca pagou e nunca leu. Preferiu com certeza a fluidez da ignorância. A ignorância permite que o primo da cunhada do sr. dr. ou o meritório jornalista Norberto recebam um T1 em Benfica, discretamente, sem questões, nem ruído. Uma lista torna o exercício mais nítido e polémico.

De qualquer maneira, o que principalmente espanta neste episódio é inocência da autoridade. Uma inocência genuína e profunda. Que um funcionário (eleito ou não eleito) distribua como quem distribui uma mercê propriedade da câmara, ou seja, do contribuinte, não perturba a cabeça de ninguém. Então um favorzinho, que não custa nada, é agora um crime? Os portugueses sempre se trataram assim: com um "jeitinho" aqui em troca de um "jeitinho" ali. E a administração do Estado fervilha de grupinhos de influência e de pressão que promovem, despromovem, transferem e demitem - e vão, muito respeitosamente, ganhando o seu dinheirinho por fora, com uma assinatura e um carimbo. Ética de serviço? Quem ouviu falar nisso?».

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