A Zon está Zoff
Não foi há tanto tempo assim: em 1992, em mais uma de tantas mudanças de casa, fui à PT pedir telefone fixo na nova morada e responderam-me que, para a zona do Rato, a espera pela instalação rondava os três meses. As minhas humildes explicações – jornalista, uma newsmagazine que nasceria dali a algum tempo (era a “Visão”...) – não comoveram a funcionária que, num gesto de simpatia, apenas disse: “o máximo que podemos fazer, para não ficar incontactável, é alugar-lhe um telemóvel”.
Assim foi. Durante 3 meses, eu tive um telemóvel alugado à PT. Chamar-lhe móvel era um eufemismo: tratava-se de um caixote que pesava mais de três quilos e cuja bateria resistia 20 minutos. Mas aquele 0936 foi bastante útil à época.
... E eu lembrei-me deste episódio há poucos dias, quando sofri na pele a mudança na relação deste tipo de empresas com os clientes. Naqueles idos de 1992, a PT fazia o favor de me servir – hoje, faz tudo e mais umas botas para me ter como cliente. A PT e as outras...
O problema é que fazem, por vezes, demais. Em excesso. E foi isso que me apeteceu dizer quando entrei na loja da Zon para acabar de vez com a minha longa relação de fidelidade à TV Cabo. À pergunta “e quer denunciar o contrato por que motivo?”, apeteceu-me responder “excesso de atenção ao cliente”. Mas acabei por dizer a verdade.
A verdade é esta: esgotei a minha capacidade argumentativa depois de um ano a ser diariamente moído pelos serviços comerciais da Zon, que pretendiam oferecer-me promoções, preços maravilhosos, ofertas deslumbrantes. Ora, eu não queria receber aqueles telefonemas. Fui explicando aos interlocutores que era um tipo bem informado, que quando eu quisesse aproveitar alguma promoção trataria de contactar a empresa. Não funcionou.
Então perdi tempo e desloquei-me a uma loja da Zon, onde expliquei o problema. A expedita funcionária não apenas compreendeu como declarou que o meu telefone ía ser imediatamente classificado como confidencial e, por conseguinte, os serviços comerciais da empresa deixariam de me incomodar.
Falso. Nas últimas semanas recomeçou o martírio. Fui incomodado às dez da manhã, às nove da noite, até ao sábado – num mesmo sábado, por dois funcionários diferentes. Quando a coisa chegou aqui, e depois de ter sempre pedido para assinalarem no computador que este cliente rogava o favor de apagarem o número de telemóvel da ficha de contactos, fiz a ameaça fatal: se o meu telefone voltasse a tocar e fosse alguém a fazer uma oferta da Zon, eu rescindiria o contrato e contactava a concorrência.
Podem não acreditar, mas dois dias depois eu recebi, na mesma tarde, três telefonemas do já famoso 218627179. Num deles, e comigo já aos gritos, o “vendedor” chegou a mandar-me calar... Estava em Sintra, mas em três tempos cheguei à Loja de Entrecampos da Zon. O diligente funcionário começou por prometer colocar outra vez o número como confidencial, depois ofereceu-me um desconto de 5 euros, e por fim percebeu que eu não estava ali a perder tempo nem a pedir descontos. Estava a rescindir o contrato com uma empresa que nasceu a tratar mal os clientes e agora volta a tratá-los mal. No princípio, era negligência e falta de sentido comercial. Agora, é excesso de confiança, abuso de informação, e marketing selvagem. Alguém algum dia vai perceber que no meio fica a virtude? Alguém algum dia vai contratar responsáveis competentes para um serviço de marketing obviamente comandado por um bando de incompetentes?
Lembrei-me desses idos de 1992. Porque repentinamente fiquei com saudades de um tempo em que, por um lado, nada funcionava – mas, por outro, quando o telefone tocava, em geral eu queria atender. Espero que a Zon e os seus militantes do marketing invasivo desapareçam da minha vida, mas espero essencialmente que o operador que escolhi seja comercialmente eficaz e sensível...