Crítica cómica
Vejamos então o que se passa com “Metafonia”, o trabalho que marca o regresso da Madredeus na versão “Madredeus e a Banda Cósmica”. Começa por haver diferenças na nomenclatura (e isso deveria dar que pensar aos “comentadores”...), mas na realidade há diferenças por todos os lados. Há Madredeus na matriz de cada tema, mas há todo um novo mundo por cima dessa matriz. Isso é indiferente à crítica: há anos que ignorava ou desprezava a Madredeus porque, dizia, andava sempre a fazer o mesmo disco, a repetir e repisar a fórmula, já não se podia ouvir, dava sono. Agora, os mesmos críticos recordam com saudade a fórmula que antes os adormecia e arrasam o disco novo por ser diferente e sair fora do que esperavam...
Como quem diz: antes não queríamos saber porque não mudavam, agora não gostamos porque mudaram. Eu leio estas patetices e até fico na dúvida na hora de comprar o disco. Mas compro.
E gostei de ser surpreendido com uma paisagem musical nova, porém com uma origem que me foi familiar; gostei de ver os horizontes alargados, as influências asiáticas e africanas, a fina mistura de sons de origens díspares; preferia vozes mais distantes da voz de Teresa Salgueiro, mas ainda assim encaixei a transição e percebo o percurso que o futuro certamente definirá; rendi-me à riqueza dos arranjos, da musicalidade transversal, até mesmo à aparente leveza de brincadeiras inconsequentes como a muito falada “Caipirinha”... Admiro a coragem de conceber faixas instrumentais com 11 minutos (e alguma cantadas...). Senti liberdade de criação e talento qb.
Ou seja: onde a critica se enfastiou porque a Madredeus já não é como era, eu gostei que fosse um passo em frente; onde a mesma critica ficou sem rótulos para a diversidade da obra (eu li algures a designação “som foleiro” para caracterizar este disco...), eu vi a inteligente resposta à ideia - “o mesmo disco de sempre” - que pairava sobre Pedro Ayres Magalhães.
Gostei desta “Metafonia” e vou passá-la abundantemente na Antena 1, em casa, e no carro. Quanto aos críticos, está na hora de fazer com eles o mesmo que se vai fazendo com os jornais - torná-los gratuitos. Na verdade, é por termos a critica que temos que as vendas dos discos nunca reflectem a generalidade da opinião publicada. Ao menos isso...
PS: Sábio, sensato e inteligente, o meu amigo JG, antes de tudo, disse-me que ainda ia ouvir mais duas vezes antes de chegar a uma conclusão. Ele estava na dúvida – porquê? Porque sendo ele crítico há muitos anos, não se deixa cair na tentação de ser previsível. Ele até pode não gostar – mas quando escrever, saberá fazê-lo com consistência e propriedade. É a excepção que sempre convoco.