Quarteto
Este quadro deixou-me desolado. Então parei o carro e fui fixar a imagem. O “Quarteto” já fechou há algum tempo, mas nunca mais tinha passado por lá, nem sabia que o espaço estava à venda, embora mantendo a fachada de sempre. Dói mais quando se confronta o passado glorioso com a insignificância do presente.
Depois dos cinemas da infância – Alvalade, Caleidoscópio, Apolo 70... -, o Quarteto foi a sala que me ensinou a ver filmes, que me fez crescer e me mostrou que havia mais cinema para lá do óbvio. Vivi lá boa parte das noites da minha juventude, antes dos copos no Bairro Alto, antes das noitadas a namorar pela Avenida de Roma.
É evidente que o mercado manda, e se o Quarteto fechou foi seguramente porque muita gente deixou de o frequentar, e porque talvez tenha deixado de fazer sentido um espaço com aquelas características. O mercado é soberano e o tempo é fatal. Não defendo a existência subsidiada nem o culto do prejuízo. Mas nem por isso deixo de sentir tristeza sempre que desaparece um bocado da minha vida, ou um bocado do cenário onde vivi. Aquele cartaz “vende-se”, assim gritado e agressivo, deixou-me incomodado e muito triste.
Nem sempre o coração consegue aceitar a razão, é apenas isso.