Reality Show
Contei aqui no blog como cortei a relação contratual que mantinha há anos com a Zon (desde o tempo em que era TV Cabo). Na verdade, os senhores que comercializam os produtos da empresa calaram-se para todo o sempre, o que muito agradeço.
Mudei-me para a concorrência (avisando-a previamente do que sucederia caso começasse a receber telefonemas que começam com “Estou a falar com o sr. Pedro Duarte?”...), e num dia desta semana lá me bateram à porta. “É do Meo”, disse uma voz nasalada pelo intercomunicador. Abri.
Não esperava, em rigor, as raparigas da imagem acima, nem o próprio Ricardo Araújo Pereira. Mas a imagem moderna da nave espacial do comandante Meo e o futurismo que a publicidade convoca, além do styling, faziam adivinhar uma entrada fulgurante de novas tecnologias cá em casa, certamente pela mão de tipos com um ar vindo do futuro. Imaginei algo entre cientistas de cabelos em pé com ar endoidecido e técnicos de bata branca tipo laboratório de detergente que lava mais branco.
Foi então que começou o sketch real do Gato Fedorento: entrou um “Zé Carlos”. Muito simpático, “Xô Pedro” para aqui, “Xô Pedro” para ali, porém um “Zé Carlos” de proeminente barriga e óculos embaciados pela gordura, pólo “USA style Gaps”, ao pescoço um colar Meo cheio de chaves na ponta, uma caixa de ferramentas do Aki, e sorrindo apresentou a sua arma secreta: “Trago o carrinho para não ter de carregar o material à mão, ah poizzzéé!”. O carrinho, vindo da nave espacial Meo, é este que fotografei às escondidas do amigo Zé Carlos...
O amigo Zé Carlos chegou às 10 da matina, mas ao meio-dia e meia desistia da primeira fase: “Óh Xô Pedro, ela vem dali, tinha que vir dar aqui, ela tinha que vir aqui ter, mas tá a ver? O verde não acende. Na vem. Ela na vem, na sei se é um cabo encravado, se é daonde... Vou ter de ir lá à central, o Xô Pedro vai-me desculpar”.
“Ela” era a linha telefónica, presumo. Não chegava. Mas “tava mesmo ali na coluna...”
Eu desculpei. Passada uma hora, o “Zé Carlos” voltou com mais dois colegas: um não falava, soltava raramente um “hmmm”, tinha um boné de ciclista com a pala virada para trás, uma tampa de caneta a fazer de palito no canto da boca e era estranhamente parecido com um dos rapazes que tornaram famoso o balcão do BES de Campolide; o outro, parecia saído de um “especial Gato Fedorento” dedicado ao pinta da Madragoa. Foi esse encarregue de me explicar o funcionamento do comando “meo”: “Só tem de clicar, o senhor só tem de clicar, pode alugar um filme de qualquer estilo, um português, um comédia, um trailer (era thriller...); vá, vamos clicar, vamos trabalhar aqui a bola como se fosse um jó-stick, vamos lá, carregue, carregue... É extremamente fácil!”.
E era. Mas o primeiro Zé Carlos ainda não tinha almoçado: “Não comeste nada, nem uma bucha? Epá, vai lá comer uma bucha que eu acabo isso, tens aí a ferramenta? É que ele tem de ir até ao fundo, metes o cabo até ao fundo, senão o gajo não liga”.
A meio da tarde a operação estava terminada. O Meo funcionava perfeitamente e, até agora, não tenho protestos nem reclamações, só mesmo um certo fascínio pela inteligência da máquina e das suas performances...
... Mas o episódio deixou-me a pensar no lado efectivamente humorístico do meu dia perdido: as campanhas mostram o futuro, o espaço, raparigas lindas, o comandante, naves espaciais e arquitectura muito lá à frente... Mas a realidade mete bonés de pala ao contrário, barrigas mais tugas do que a minha, “jó-stick”e trailer, “ela vem dali mas não chega aqui”, e “uma bucha” para “acamar”. A realidade dá sempre mais vontade de rir do que a ficção. Ainda por cima é mais barata.