A lampreia do António Macedo
E de tudo o que li, o que fixei e me deixou a pensar foi o depoimento/texto/crónica (como chamar-lhe?) do meu bom e antigo amigo António Macedo, na revista Pública, sobre essa coisa, que não é bicho nem bactéria, e que se chama lampreia.
Acho que não gosto de lampreia, ainda que os meus gostos me digam que devo gostar.
“Tem um sabor castanho” – começa assim. Um texto que começa assim tem de ser um bom texto. Quando mais à frente o leitor se apercebe que António Macedo come lampreia, devora lampreia, arrasa lampreia, porque o bicho é “tão feio, tão horrível, tão repelente”, que “não pode existir” e por isso – lá vai, alguém tinha de o fazer – deve ser comido e devorado para não ficar aí, à solta... aí começa a apetecer...
E depois é por ali fora. Como um bom prato. Como um cozido. Ou se calhar uma lampreia. Lê-se como se come. É prosa irresistível de boa, da que tenho saudades e raramente encontro.
Foi o melhor que li – e que mais me ensinou – nestes três dias com sol. E tudo.