Muito pouca classe
Um deles, como é público, foi entretanto retirado do ar na sequência da polémica que o seu texto provocou.
Não vou discutir o conteúdo do spot e a demagogia barata de quem viu nele mais do que um momento irónico sobre uma realidade que nos afecta a todos quando há greves ou protestos de rua (no dia da manif dos 200 mil, demorei uma hora a fazer um percurso que normalmente me leva 10 minutos…). Apesar de me inspirar um sorriso também ele irónico, não me custa perceber as críticas sindicalistas e de punho no ar. Aceitemos os factos…
Mas acho sinceramente que é pura má-fé (entre colegas de profissão ganha estatuto de pura maldadezinha…) fazer a associação entre a voz de Eduarda Maio, obviamente escolhida por ser uma das que melhor se identificam com a Antena 1, e o facto de ter escrito uma biografia de José Sócrates.
A lógica perversa que se pretende difundir levaria, no limite, a que a escolha das outras duas vozes (a minha e a de Júlio Machado Vaz) teria tido também outros motivos para lá do facto de estarmos no ar, no rádio, todos os dias. Terá o Júlio escrito o prefácio da biografia do primeiro-ministro? Será verdade que me inscrevi no Partido do Governo um dia antes de ter gravado o spot? Hmmm…
É fácil na verdade, fazer jornalismo assim: juntar peças de um puzzle inexistente e construir realidades a partir de ficções.
Tenho a certeza de que a Eduardo Maio, se lhe passasse pela cabeça quão baixa podia ser a campanha que lhe movem agora, tinha simplesmente recusado participar no anúncio. Podia tê-lo feito, como qualquer de nós, já que não fomos pagos e era de livre vontade que aceitávamos ou não colaborar no marketing da rádio cuja camisola vestimos. Mais vozes haveria que podiam também “contracenar” com o “presumível ouvinte”. Mas não: a Eduarda aceitou, porque provavelmente não avaliou bem a classe a que ambos pertencemos. Mas a classe é assim, como o país: pequenina. Muito pequenina. E classe, tem pouca…