Perder o pé
A Paris Match foi, durante décadas, a Life europeia (em Portugal tivemos a Flama, onde o meu pai trabalhou como jornalista e mais tarde como colunista de humor...). “O Match”, como costumava ouvir dizer em miúdo, nunca teve o glamour, a qualidade e o rasgo da revista norte-americana – mas, misturando alguma frivolidade na receita de publicação de actualidades fotográficas, sobreviveu razoavelmente às diversas crises que esse meio-século viveu.
Aqui há dias reparei na banca nesta capa da Paris Match. Passaram mais dez anos e agora já são 60... Comprei a edição, coisa que não fazia há tempos. Notei que a revista resistiu.
E o que encontrei? Encontrei uma publicação literalmente à deriva, entre a glória passada e a ausência de uma perspectiva consistente de futuro. As matérias – normais ou especiais do aniversário – parecem coladas com cuspo, e o grafismo baixou para patamares quase amadores. Da revista de corpo e alma, restam meia-duzia de fotografias produzidas e um logótipo que felizmente nunca foi muito mexido. Desolado, ia deitar fora “aquilo” quando vi o anuncio, nas páginas interiores, da sua nova edição on-line...
Esperançado, fui bisbilhotar. Encontrei uma espécie de revista de papel no ecrã (pior só mesmo a mania actual dos jornais de reproduzir em papel os mecanismo que só na net existem – simbolozinhos tipo “play” ou “link”, nos quais não adianta “clicar”, porque nada acontece no papel...). Uma pobreza sem princípio nem fim. Um marasmo completo e uma má notícia anunciada.
Percebi o que um dia me disse um administrador de uma empresa no momento de a abandonar: nem sempre desaparecemos porque deixamos de fazer sentido – muitas vezes deixa de fazer sentido aparecermos...