A bem ou a mal
Rever, como me aconteceu esta noite, mais de 15 anos depois da estreia, “American Beauty”, esse filme absolutamente genial (que nos revelou - pelo menos a mim… - Kevin Spacey), é voltar ao confronto com a ideia que me foi passada em tempos e vinha de longe, da Galiza: “todos tenemos algo”. Como quem diz: por trás de cada cara, de cada figura, de cada existência, há sempre outros “eus”, que tentaremos ocultar, ignorar, menosprezar. Com os quais recusamos o “encontro”. Mesmo que uma sólida formação nos vá lembrando, aqui e ali, que apesar de tudo há sempre um lado certo e um lado errado. Sou desses.
Mas “American Beauty” vem dizer-nos também que nada é taxativamente verdade, nada é taxativamente mentira. A família não é mais do que uma encenação que a natureza - ou Deus, para quem nele acredita - concebeu, e a à qual tentou dar sentido. E a vida moderna é tão estupidamente ridícula como a vida antiga. A ambição é igual à falta dela: vazia.
Nada tem, na verdade, grande sentido, como o filme demonstra. Ou tem um sentido diferente daquele que gostamos de lhe atribuir. Estar vivo é uma coisa - viver é outra, bem diferente.
No fim, quando esta imagem (acima) aparece, cheguei ao mesmo lugar de há quinze anos: se conseguirmos aceitar que esta passagem por aqui não é mais do que um estágio, onde aprendemos um bocadinho de cada coisa, sem grandes consequência (mas também não impunemente…), talvez a vida faça algum sentido. E possa ser algo mais do que a escassa “Beleza Americana”.
Simples, talvez básico: sempre a aprender. Quando já sabemos o suficiente, vamos embora. A bem ou a mal.