A gritaria da Vodafone
Se me perguntassem qual era a maior agressão que a vida moderna me faz, nem hesitaria na resposta: o ruído. Do barulho das chávenas e pires que se empilham numa pastelaria à gritaria com que as pessoas gostam de demonstrar a sua felicidade nos jantares de grupo, passando pela máquina de cortar relva no jardim aqui em frente, o ruído é uma agressão que me tira do sério e me violenta profundamente.
Já escrevi mil vezes sobre isto.
Se volto ao tema, é só para deixar este desabafo: se fosse cliente da Vodafone - já fui, hoje em dia não sou -, estaria neste momento a estudar tarifários para mudar imediatamente de operador de comunicações. Uma empresa que aprova uma campanha publicitária em que a única coisa que nos chama a atenção é a gritaria - “paaaiiiiiiiii!!!!” - de duas irmãs a disputarem o mesmo objecto, não deve desejar ter clientes. Eu fugiria a sete pés. Neste momento, falam-me em Vodafone e eu oiço crianças aos gritos. Vejo o logotipo da Vodafone, e lembro-me de crianças aos gritos. Recebo uma chamada “91”, e imagino gritos do outro lado.
A Vodafone, empresa que vende aparelhos e serviços que permitem que as pessoas comuniquem entre si, de preferência civilizadamente, acha engraçado, divertido, chamativo, atraente, eu sei lá, acha normal basear uma campanha de publicidade numa gritaria agressiva, incómoda, antipática, e anti-comercial. Sempre que o anuncio passa, atiro-me ao comando para cortar o som. Nem sei o que estão a tentar vender.
Ou cada vez percebo menos de comunicação, ou cada vez se comunica pior. Ainda por cima, aos gritos. Que pesadelo.