Ainda a memória (parte quê? Não me lembro)
A minha mãe telefonou-me ontem (ou há dois dias...) e só se lembrou de uma das duas razões pela qual o fez. Anda preocupada com isto, porque a irrita, aos 84 anos, ter falhas de memória. E indignou-se com a circunstância.
Eu também me esqueço de tudo, e nestas ocasiões lembro-me sempre de responder com um exemplo meu. De há bocado. Sublinhando que tenho 50 anos, menos 34 que ela. No caso, contei-lhe que tinha combinado um encontro exactamente no mesmo horário a que dou aulas na Restart. As aulas estão marcadas há muitos meses. E eu sabia. E estava escrito na agenda. Ainda assim, combinei…
Pois bem. Na sequência desta crónica e deste post, e de dezenas de outros que tenho dedicado ao tema (como se vê, preocupa-me…), veio a Joana Jorge dizer-me que, no fundo, talvez eu fosse uma pessoa de vanguarda. Na medida em que a Internet (e especialmente o Google) tiram na hora qualquer dúvida que a memória não esclarece ou ilumina, podemos dispensá-la de vez e ocupar essa parte do cérebro com outras preocupações, temas, ideias. De momento, não me ocorre nenhuma. Mas é sempre bom pensar que podemos estar à frente. Tal como os nossos membros se desenvolveram em função das necessidades que fomos tendo, também algumas características podem mudar em função das facilidades que se nos colocam à frente. Se calhar, daqui a 500 anos a memória individual está limitada aos sentimentos, cheiros, ao que é sensorial e realmente relevante. O resto consulta-se na rede, na nuvem, na palma da mão.
Se assim for, eu terei sido pioneiro. Não me serve de nada nos dias que correm, mas sempre é uma esperança. Estou mais animado.