As “ondas apressadas”
Ontem, pai-galo, fui ver o meu filho na sua nova função de nadador-salvador da Praia Grande. Acho que nem ele tem bem a noção do orgulho que é, para mim, vê-lo equipado e atento num dos lugares essenciais da minha vida. A praia que foi a casa de férias, parque infantil, centro de reconhecimento de potenciais namoradas, e jardim de efectivo namoro, desde que nasci até aos 21 anos... Vê-lo ali foi como se passasse o testemunho à pessoa que melhor podia honrar os dias (tão) felizes que vivi na Praia Grande. E teria tanto mais para dizer...
Bom, fechemos a parte lamecha da coisa...
Passei um bocado da tarde com ele, num dia calmo e sem sobressaltos, apesar daquele mar impor respeito - mesmo tratando-se do mar que conheço como se fosse, e é, amigo para a vida.
Lembrei-me de um poema de Pessoa (na verdade, de Ricardo Reis), que a memória não conseguiu reconstruir. À noite, em casa, não descansei enquanto não o encontrei.
A net tem este lado deslumbrante - e eis o bocado que me ocorreu ontem, pela tarde, enquanto via o António Maria olhar, serenamente, mas com dedicada atenção, o mar da Praia Grande e quem nele ousava mergulhar…
"Uma após uma as ondas apressadas
Enrolam o seu verde movimento
Enchiam a alva espuma
No moreno das praias.
Uma após uma as nuvens vagarosas
Rasgam o seu redondo movimento
E o sol aquece o espaço
Do ar entre as nuvens escassas.
Indiferente a mim e eu a ela,
A natureza deste dia calmo
Furta pouco ao meu senso
De se esvair o tempo.
Só uma vaga pena inconsequente
Pára um momento à porta da minha alma
E após fitar-me um pouco
Passa, a sorrir de nada."