Borrar a pintura...
Não vejo, no que respeita à exibição da vida pública (e só nesse aspecto, sublinho) grande diferença entre um politico, um actor ou um escritor: são todos figuras com uma expressão pública que lhes dão uma notoriedade e uma popularidade maior do que a de um padeiro ou uma caixa de supermercado.
A um politico pede-se mais, é verdade: coerência, honestidade, seriedade, profissionalismo. Mas não se pede para ser menino de coro nem se obriga a um código de comportamento que implique fato e gravata ou saia-casaco obrigatórios.
Neste quadro, não me chocou de todo a capa que Joana Amaral Dias protagonizou, exibindo nua a sua gravidez. Talvez possa avaliar a fotografia, de cujas qualidade e gosto duvido - mas isso deve ser defeito meu, que trabalhei com gente como a Inês Gonçalves, o João Silveira Ramos, o Augusto Brázio, o Carlos Ramos, e outros profissionais deste nível. Mas não me choca que uma figura publica - neste caso politica, mas podia ser actriz ou apresentadora de TV - aceite ser fotografada naquelas circunstancias. Para mais, conhecendo pessoalmente a Joana Amaral Dias, com quem até já trabalhei num programa de televisão, sei que é uma mulher provocadora, que se diverte com essa pose de provocação, e que sabe rir de si e dos outros. Imagino como se deve ter rido com a polémica que desencadeou…
… Mas, confesso, já acho menos graça à continuação do episódio, com a Joana a justificar as suas fotos com os direitos das mulheres, o feminismo e e a liberdade. Cheira-me a aproveitamento fácil, e sem justificação, para uma campanha eleitoral em que, pelos vistos, vale tudo.
Não, Joana: ninguém cai nessa conversa do feminismo para justificar umas fotos “a la” Vanity Fair! Enquanto se tratou apenas de uma produção fotográfica de uma personalidade que aceitou exibir-se com alguma ousadia, estamos no domínio da liberdade individual de uma figura publica, que nem tem que se explicar ou responder às parvoíces que foram por aí ditas e escritas. E estamos bem. E a Joana ganha pontos. Quando, em face das criticas, se sente necessidade de dar sustento e substrato politico e ideológico à coisa, perde-se metade da graça. E já agora, dos pontos…