Cinquenta, primeiro capítulo: “ao perto”
Uso óculos desde os 16 anos. Ligeira miopia e astigmatismo que, ao longo dos anos, evoluíram lenta e tranquilamente, sem nunca me darem grande trabalho ou despesa. A ultima vez que fiz o exame completo aos olhos, num oftalmologista como deve ser, foi-me elogiada a “tensão ocular” e tudo estava em ordem.
Há uns meses, comecei a sentir que a graduação dos óculos que usava estavam a falhar o objectivo, tanto “ao longe” como “ao perto”. Lá fui rever a coisa e confirmou-se que havia alterações na graduação. O optometrista insistia que eu devia tentar lentes progressivas, pois os novos óculos que estava a comprar não teriam grande efeito na vista “ao perto”, corrigindo apenas a “geral”. Do alto da minha presunção, pensei: ora, se usei uns óculos únicos para perto e longe toda a vida, não é agora que isso vai mudar.
Pois não.
Há semanas, já um pouco irritado por ver cada vez pior “ao perto”, comprei um par daqueles óculos “de leitura” que se vendem nas farmácias. Nos primeiros dias foram-me muito úteis para ler jornais ou bulas de medicamentos. Agora, já preciso deles para o computador, para o telefone, para tudo o que é “ao perto”.
O optometrista tinha razão. E eu começo a perceber o que é ter 50 anos.