Coisas que não mudam
Nos países onde a democracia é civilizada e levada a sério, erros como aqueles agora registados no processo de colocação dos professores, que fez do inicio do ano escolar um caos generalizado (não foi a primeira vez, mas terá sido dos piores anos, e sem qualquer justificação válida), levariam obviamente à demissão do ministro Nuno Crato.
Mas Portugal é um país “diferente”, onde a responsabilidade política é uma figura de retórica usada apenas em campanhas eleitorais. Resultado: “lixou-se o mexilhão”.
Demitiu-se Mário Pereira, director da Administração Escolar, sem duvida um dos responsáveis pela loucura que vai por essas escolas. Mas ficou de pé, sem pinga de vergonha na cara, Nuno Crato, o efectivo responsável político - ou seja, público - pela balbúrdia. "Apresentamos as nossas desculpas aos pais, aos professores e ao país", disse o ministro. Faltou-lhe acrescentar ética e seriedade ao discurso: “e nessa medida, obviamente, demito-me”.
Isso seria outro Portugal. Aquele que nunca mais chega à maturidade, à responsabilidade, ao exemplo que faz a diferença.
(Nestes momentos lembro-me sempre de Jorge Coelho, que tinha má fama mas teve boa prática: demitiu-se de ministro do Equipamento Social na sequência do acidente na ponte de Entre-os-Rios. António Guterres, então primeiro-ministro, sublinhou a «dignidade de quem seguramente está isento de qualquer responsabilidade pessoal pelos trágicos acontecimentos». Mas aceitou a demissão. Há exemplos que vale a pena lembrar, para que não se julgue que “eles são todos iguais”. Há uns mais iguais do que outros. Confesso: tenho saudades de políticos como António Guterres.)