Dias atípicos
Na véspera da comemoração do dia em que a liberdade foi devolvida aos portugueses, soube-se que andava pela Assembleia da Republica um projecto de diploma que criava uma espécie de “exame prévio” ao trabalho dos jornalistas em campanha eleitoral. Confesso: achei a coisa tão absurda e ridícula, que nem consegui levá-la a sério. Fez-me lembrar a história daquele deputado que roubou o gravador a um jornalista - são aquelas peripécias, aqueles fait-divers, que tornam os nossos dias menos cinzentos. Ri-me. Não sabia mais o que fazer.
(O tal diploma morreu, mas parece que não era tão brincadeirinha quanto isso. Lá está: eu e a minha mania de não levar nada muito a sério…)
Depois veio o 25 de Abril e o PSD e o CDS acharam que era a data ideal para anunciar uma coligação eleitoral. Marcelo disse na TVI que Passos e Portas desconfiam um do outro, mas disfarçaram para aparentar unidade. Meu deus, terei ouvido bem?
Enquanto isso, na RTP-Memória, a recordação da emissão especial dedicada às eleições para a Assembleia Constituinte, em 1975, devolveu-nos o país que éramos há 40 anos, sem tirar nem por. Do “securitas” da RTP que ficou tranquilo quando lhe disseram que “aquilo” era um “golpe de estado” ao ponteiro que Eládio Clímaco e Fialho Gouveia empunhavam para debitar resultados, passando pelo fumo nos estúdios e pela Manuela de Melo chateada porque em 1974 ninguém quis ocupar os estudios da RTP-Porto. Amei um velhote que dizia que ía votar na “mãozinha” sem saber porquê ou sequer o que era.
Mas agora a sério. Fico confuso com tanto non-sense, tanto gato fedorento, tanto humor inadvertido. Pergunto-me por onde andará a realidade.