Dias que passam
Não querendo colar-me ao meu “café da manhã” da imprensa - que são as crónicas do Miguel (Esteves Cardoso) no Público -, quer-me parecer que o mais relevante do fim de semana foi mesmo a meteorologia: regressou o Sol, o céu limpo, o calor. Ele, o Miguel, escreveu:
“O céu tem estado. O mar está cada vez mais. Até o céu de noite, de tão aceso por todas as estrelas, com a lua cada vez maior e mais amarela, também tem sido. Azul. Azúis. Graças ao sol que, sem nunca se ter ido embora, conseguiu dar a impressão de ter voltado não só depois de longa ausência como para sempre”. Depois falou, cheio de razão, sobre cães e a merda que os donos deixam nas praias, sem dó nem piedade…
Seguindo.
Pena a água do mar estar gelada a um ponto insuportável mesmo para quem, como eu, gosta de dizer, quando vai à praia: “não estou cá para outra coisa: mergulhar”…
… Não mergulhei. Primeiro objectivo: falhado.
Mas, ao fechar os olhos e estender o corpo ao Sol, ao lado da A., e sentir o prazer do momento e a falta que me faz a praia todos os dias do ano, não deixei de pensar na caótica e tantas vezes absurda forma como ordenamos os pensamentos de cada dia, privilegiando o lixo sobre o luxo, o mau sobre o bom, o irrelevante sobre o que releva.
Luxo, bom e relevante, é este sol e este clima num dia do começo de Março. Lixo, mau e irrelevante é a forma como se começa a desenhar a campanha eleitoral, em cima da espuma, fugindo ao essencial.
Se eu fosse Pedro Passos Coelho, já me tinha demitido - mas talvez por isso, nunca me passou pela cabeça “fazer carreira” na politica, sou capaz de perceber e aceitar os inaceitáveis erros que tem cometido, e nem consigo dar-lhes a importância que tantos julgam ter. Ao contrário, falando em assuntos mal explicados, aí sim, as malas de notas por explicar que abalam, mesmo que não cheguem a condenar, José Sócrates (exemplar, de passagem, o dossier da última edição da Sábado, talvez o melhor e mais esclarecedor trabalho sobre a matéria até hoje publicado), incomodam-me e deixam-me “abazurdido”: aquele homem foi primeiro-ministro de Portugal tempo demais para tamanha dose de sarilhos. Quantas pessoas sérias e competentes terão perdido tanto, ou mesmo tudo, por cada tanto que ele terá ganho, se se provar que assim foi?
Entre um caso, o de Sócrates, e o outro, de Passos Coelho, vai a distancia do tempo que faz ao tempo que nos falta. Queremos mais Verão ainda antes da Primavera, e vamos lamentar tanto calor quando nos faltar um pouco de fresco.
É sempre assim. Ou como dizia Pessoa, aliás Caeiro: “Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol./ Ambos existem, cada um como é”. Pois. O problema é mesmo esse: não aceitamos as evidências, mesmo quando existem. Os dias não são todos iguais.