Ditadura etária
Conversando com um amigo sobre o estado actual do mercado de trabalho na área dos media e da comunicação - e pelos vistos, de muitas mais áreas -, ele explicou-me (com a experiência de liderar, directa e indirectamente, várias empresas) a dificuldade em conseguir trabalho depois dos 45 anos:
“Vivemos o tempo da ditadura etária. Ninguém a impõe deliberadamente, mas é mesmo assim: quem manda nas empresas e nos projectos são pessoas de 40 anos, e só contratam gente de 30 ou de 20. É a ditadura. Eles não querem lá gente com 45 ou 50. Não querem, ponto.”
Não vou abrir uma guerra de gerações, mas deixem-me que diga: sou do tempo em que nos jornais, nas rádios, nas televisões, não havia essa ideia de “novo” e de “velho” - havia a diferença entre ter mais garra e menos experiência, por contraste com mais ponderação mas muita experiência. A memória e o saber dos mais velhos eram admiradas e respeitadas, e ninguém tinha medo de perder espaço porque havia gente com mais "carreira" em lugares menos destacados.
Também me lembro dos estudos de mercado que diziam que os pivots de Telejornal mais respeitados, bem como os comentadores de imprensa, eram aqueles cuja imagem revelava alguma idade, fosse pelos cabelos grisalhos ou por qualquer outro sinal. Não era dogma, era apenas um indicador.
A minha memória é essa, que apura os melhores independentemente da idade: pelo DNA passaram pelo menos dois editores bem mais velhos do que eu, que era director: no “Se7e”, com o Manuel Falcão, idem; na “Visão”, o Cáceres Monteiro nunca se sentiu ameaçado pela presença de editores mais velhos; no DN, com o Mário Bettencourt Resendes, a mesma coisa. Até quando o Miguel Coutinho e o Raul Vaz me foram buscar para a direcção desse mesmo DN, convidámos outros subdirectores mais velhos, como o António Peres Metelo. A idade não é um posto, mas é uma mais-valia.
Não me sinto de todo envelhecido, e não penso que esta análise do meu amigo me afecte objectivamente (ainda que, num caso ou noutro, a ela possa recorrer para explicar determinados “fenómenos”…). Mas fiquei muito desanimado com a ideia de um país que despreza a experiência e o conhecimento acumulados. É obviamente um país pobre, triste, e condenado. Por mais que nos vendam números e défices e PIB’s e merdas desse género.