Ensaio
(Desde que o Luís Represas pegou numa letra minha, a gravou e cantou, ensaio mil letras de canções. Esta nunca vai ser. Por isso me apetece deixá-la aqui. Chamar-se-ía "Caneta"..)
Tenho uma caneta que não me obedece
Pensa livremente o que lhe apetece
Escreve o que jamais pensei
Pensa o que não quero pensar
Tenho uma caneta que não me obedece
Não sei que volta lhe dar
Já escreveu cartas de amor
a mulheres que nunca amei
Já me reconciliou de vez
com quem de vez me zanguei.
Há dias escreveu ao Presidente
Mandou-o pra outra banda
Envergonhado, pedi desculpa
A minha caneta irritou-se
Escreveu-me nas costas:
“És fraco, desanda!”
A minha caneta não me larga
Não ata nem desata
Gosta de mim quando lhe pego
Dá-me patadas quando lhe escrevo
E no fim de tudo, quando adormece
Pede-me uma tampa para não secar
E promete escrever-me sem apagar
Tenho uma caneta que não me obedece
Pensa livremente o que lhe apetece