Inquietação
A carne é fraca e a raça é pior: os 51 detidos em Espanha, suspeitos de crimes de corrupção (ou a ela associados), não são diferentes dos brasileiros que protagonizam o “petrolão” ou dos portugueses que sabemos. É tudo farinha do mesmo saco. Mas a multiplicação de casos por este mundo fora - antigamente, dizíamos que estas coisas só se passavam na América Latina e em África, lembram-se? -, à esquerda e à direita, nas classes baixas, médias e altas, empurra a democracia para o abismo e convoca a pergunta inevitável: será incompatível o exercício da liberdade com a ética da transparência e o principio da honestidade? Dito de outra forma: será que só somos sérios à força, e debaixo de câmaras de vigilância?
Não imaginava chegar a esta fase da vida com dúvidas de uma tão triste e miserável natureza. Não imaginava sequer poder duvidar do regime.
Confesso: todos os dias há qualquer coisa que me faz estremecer e sentir a “Inquietação” que José Mário Branco tão bem cantou: “Há sempre qualquer coisa que está para acontecer / qualquer coisa que eu não consigo perceber / Porque, não sei / Porquê não sei ainda”.
Porém, e ao contrário do remate da canção, “essa coisa” não é linda. Mesmo.