O ruído, o silêncio e o mar
Vivi intensamente esta semana em que todos fomos e somos Charlie. Pouco escrevi sobre o tema. Apenas um apontamento no Facebook, depois do desfecho de sexta-feira:
“Quiseram morrer, morreram. Não tenho pena nem me entusiasma (concordo com o Miguel Esteves Cardoso no Público, como de costume).
Porém, o facto de terem morrido não muda a sua condição: não vão ser heróis de qualquer pessoa de bem, qualquer que seja o credo. Serão para todo o sempre bárbaros assassinos”.
E não consegui escrever mais nada.
Não por não ter o que dizer, mas por sentir que todos dizem, todos falam - e no ruído não consigo distinguir o que faz sentido. Vivemos um tempo de barulho, confusão, ver quem se ouve mais alto. Parece que meio mundo procura captar a atenção do outro meio mundo. E todos querem dizer tudo em primeiro lugar. É fascinante, mas deixa-me muitas vezes atordoado e sem reacção. Leio os outros e sublinho aqueles com quem concordo. Prefiro seguir a repetir.
Quanto me noto redundante, escolho o silêncio. Talvez seja por isso que me sinta bem junto ao mar: nunca se repete, mesmo que as ondas sejam sucessivas; nunca me cansa, porque nunca é igual; obriga-me ao silêncio não por redundância, mas pela diferença.
Ainda é a diferença que me move e entusiasma.