Os otários que paguem a crise (parte 1)
Quase todos os dias penso nisto: há uma enorme discrepância entre a crise - traduzida tanto em números públicos como na forma como a sinto na pele, com rendimentos que encolheram aos níveis dos anos 80 e praticamente me deixam falido - e as multidões que vejo encherem os supermercados e centros comerciais, ou o parque automóvel que me cerca (pelo menos em Lisboa…).
Nada bate certo nesta crise. Nem o numero de smartphones vendidos, nem os concertos esgotados, nem os estádios de futebol cheios, nem os restaurantes da moda sem lugares vagos, nem o Algarve em alta na Páscoa - e depois, a realidade dos cortes nos salários, nas pensões, os impostos, as taxas, enfim, o que sabemos.
Repito: quase todos os dias penso nisto. E depois leio noticias como esta e começo a perceber: anda meio mundo a enganar outro meio. Fico deprimido mas bem mais tranquilo: não estou enganado, sou apenas um dos poucos otários que vive mesmo do seu trabalho. Quando há trabalho, claro.
(A noticia para que o link aponta, do Expresso, é esta: “Mais de uma dezena de funcionários do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém estão a ser investigados pela Polícia Judiciária por suspeita de envolvimento num esquema fraudulento de emissão de bilhetes, permitindo a entrada de visitantes naqueles dois monumentos à margem da contabilidade oficial”. É oficial: vou começar a contabilizar o numero dos que se safam à margem da lei. Vai explicar muita coisa sobre a putativa crise que vivemos. Que vivem alguns.).