Preso por ter cão… e por não ter
(Crónica editada na passada quinta-feira na plataforma Sapo24, que vale a pena visitar. E subscrever. Mesmo. Esta quinta lá estarei de novo...)
O The Daily Show, de Jon Stewart, venceu o Emmy for Outstanding Variety Talk Series. A colecção de Emmys ganha pela série “Guerra dos Tronos” foi muito mais falada do que este prémio - o que não espanta, claro -, mas vale a pena sublinhar este facto para o universo televisivo nacional, porque reflecte algo que nos parece sempre esquisito: um programa estar no ar tanto tempo…
O The Daily Show durou 16 anos. Se fosse em Portugal, era um fenómeno: 16 anos no ar, facto absolutamente normal por esse mundo fora (quando falamos de programas de sucesso, com estrutura sólida, estruturada, e audiência fixa), seria entre nós motivo de debate, critica reclamação. E penso nisto quando leio as criticas que têm sido feitas ao regresso de Ricardo Araujo Pereira - queira ou não usar-se o nome Gato Fedorento, ainda que amputado de um membro - no programa “Isto é tudo muito bonito, mas” (TVI, diariamente às 21:00). O que todos os que gostam daquele grupo de humoristas desejavam era que eles não defraudassem nem mudassem o seu registo - e foi isso que eles fizeram. Bem.
Pois é justamente esse o argumento critico para dizer mal do programa. Que é de novo o mesmo registo. Que não inova. Que não mudou. Se porventura tivesse mudado, teríamos um coro de criticas a pedir o regresso dos “antigos” Gatos - como não mudou, temos a mesma critica virada do avesso. Presos por ter cão, presos por não ter.
Confesso: tenho cada vez menos paciência para esta atitude bem portuguesa de pedir mudança mesmo quando não é desejada. Uma espécie de inveja mal disfarçada que se vinga na critica fácil.
Eu gosto do programa da TVI exactamente porque não defrauda o gosto que já tinha nos programas anteriores daquela equipa. Podem estar 16 ou 20 anos no ar - porque esse deveria ser, em Televisão, o caminho de quem faz bem o que se propõe fazer.
Jon Stewart parecia que falava para Portugal quando recebeu o prémio: "A todos os que trabalham em televisão, só quero dizer-vos, agarrem-se o mais que puderem". Eu diria o mesmo ao Ricardo e à sua equipa: agarrem-se e não mudem. Os que vos querem diferentes são os que não vos querem no ar.