Radical
Desde que me lembro de ser gente que oiço falar no Segredo de Justiça. Mas, tal como sucede com o Pai Natal, deixa presentes mas nunca o vi. Pelo contrário, esfuma-se sempre que precisamos dele para a determinante prova de vida.
Agora, com o caso Sócrates, entre o jornal Sol e o Correio da Manhã, o Pai Natal largou os seus presentes e bazou novamente - segredo de justiça, onde andas tu?
Sou radical: se não vences o inimigo, junta-te a ele. Por mim, acabava de vez com o segredo de justiça, uma verdadeira palhaçada que descredibiliza todo o sistema de justiça, não dá garantias aos arguidos nem reserva aos investigadores (pelo contrário, ridiculariza as instituições e faz troça de quem devia ter direitos), alimenta especulação e boato, e só funciona quando não faz falta.
A sua existência presume, aliás, essa ideia: quando não faz falta, pode ser aplicado - é sinal de que os media se estão nas tintas para o assunto. Quando é essencial, ninguém descansa enquanto não é violado. E se acabássemos de vez com a hipocrisia e assumíssemos que o Estado não consegue controlar nem vencer este quadro de miséria?
Pelo menos livrávamo-nos no ridículo. Ficávamos apenas com a vergonha da casa escancarada. E a essa já estamos habituados.