Rasca
A crónica de José António Saraiva sobre Emídio Rangel é uma das mais lamentáveis prosas que li nos últimos tempos. Rasca, acintosa, azeda, vingativa, é um daqueles bons exemplos que podemos guardar quando quisermos demonstrar o pior que a raça humana pode ter.
Saraiva dispara sem dó nem piedade sobre duas pessoas que não se podem defender - Rangel e Margarida Marante -, insinua infidelidades e traições, reclama louros que nunca teve (parece que sem a sua palavra jamais Pinto Balsemão teria contratado Emidio Rangel para a SIC… Só para rir!), invade a privacidade alheia revelando conversas privadas e dando a entender comportamentos menos próprios, e ainda usa a doença de Rangel para paternalmente “o desculpar” nalguns momentos menos felizes. Sexo, drogas, rock, vale tudo na prosa rasteira do arquitecto, desprovida de qualquer principio ou valor ético. Não consigo encontrar classificação para tão baixo-nivel.
Fazendo parte dos que reconhecem o gigantesco talento e valor de Emidio Rangel (lamentavelmente, vi os empresários de media virar costas, nos últimos anos, a esse valor…), não faço parte, porém, daqueles que o elogiam pessoalmente, porque o que dele conheci na escassa relação que tivemos, e que fica guardado entre nós, não é elogiável. Isso leva-me ao respeito e ao recato. Mas não abala a admiração pela sua obra, pelo trabalho, pela forma empenhada e frontal de estar na vida.
Pelos vistos, a outros inspira o exibicionismo e a desfaçatez. Depois de ler o nojo que Saraiva escreveu, fiquei com saudades de Emídio Rangel. Não gostávamos pessoalmente um do outro, mas respeitávamo-nos - e mais do que isso, tenho a certeza de que nenhum de nós desceria ao nível a que José António Saraiva desceu. Faz toda a diferença.