Roleta
Deve estar quase a fazer um ano: caminho pelas alamedas do Hospital Curry Cabral e encontro o Óscar Mascarenhas.
A ele me liga uma picardia antiga sobre a carteira profissional - que eu tirei, sob ameaça dele de me mandar prender… -, acompanhada de um sentido de humor ácido que sempre fiz questão de estar à altura na resposta. Claro que nunca estive. O Óscar foi meu vizinho de gabinete envidraçado no DN quase dez anos - tempo suficiente para passarmos da picardia ao respeito, e no meu caso também à admiração pela sua atitude na vida e na profissão.
Voltemos ao Curry Cabral. Encontramo-nos, cumprimentamo-nos, pergunta-me:
- Então, que fazes tu por aqui? Nem estás com ar muito doente…
Eu sorri, e respondi:
- Estou sou a acompanhar uma pessoa amiga. E tu, rotinas?
O Óscar encolheu os ombros e disse:
- Meia-duzia de análises, a ver se vivo mais uns anos…
Há uns dias que este encontro, e este diálogo, não me saem da cabeça.
Quem inventou a expressão “roleta russa” estava claramente equivocado. A roleta pode até ser russa, mas toca a todos. E tristemente, tem tendência a levar mais cedo alguns dos bons.