Saber pedir desculpa
Sobre o caso Manuel Maria Carrilho / Bárbara Guimarães - e o facto da legislação ter safado, por enquanto, o “filósofo”, de debater em ambientes mais informais e simples, Aristóteles e Nietzsche, talvez num abordagem retórica às prestações intelectuais de Jorge Jesus e Manuel Machado -, já tudo foi dito e desconfio que até Carrilho, antes de adormecer, encolhe os ombros e dá razão à condenação.
Não desmancha o sorriso cínico, a soberba na atitude, uma pose altiva de quem tem cartas na manga, e até consegue parecer o que nunca foi: um cavalheiro. Mas a isso já nos tínhamos habituado.
O que ainda não vi suficientemente analisado, escrutinado, naqueles modismos recentes, como o “fact check”, foi a evolução dos media no acompanhamento das notícias. No começo, recordo, o tema estava limitado às chamadas “revistas sociais” e ao “Correio da Manhã”. Notei aqui, neste blog, que o incauto cidadão que lesse apenas o “Público” ou o “Expresso”, para dar apenas dois exemplos, não saberia do grave conflito – crime público, não é demais sublinhar. O mesmo se passava com rádios e televisões, que achavam que estávamos no domínio na invasão da privacidade de vidas de figuras públicas.
Aos poucos, timidamente, as informações foram ganhando uma dimensão que começava a tornar vergonhosa passar-lhes ao lado. E por fim, quando o primeiro dos processos chega ao seu (primeiro) termo, com a condenação clara de Manuel Maria Carrilho (cujas declarações públicas, em directo para as televisões e jornais, já constituíam em si uma auto-condenação ética, moral, de respeito pelos menores seus filhos, e claramente ofensivas e atentatórias para a dignidade da ex-mulher), a notícia é pacificamente divulgada por todos os media como aquilo que sempre foi: um caso grave de violência doméstica, manipulação emocional, um caso de policia. Parece que caiu do céu aos trambolhões. Ou que sempre lá tinha estado. Não tinha.
Sabem o que mais me incomoda no meio desta tristeza sem nome? Que nenhum meio de comunicação, sempre a reclamar cabeças de ministros e exigir pedidos de desculpa pelas más práticas governativas, não tenha a humildade de reconhecer que, desta vez, errou grosseiramente num episódio que desde o começo trazia consigo a lama toda no ventilador. Era só ligar.