Sobre a ignorância
O actor principal do filme “O Homem Duplicado” - a partir do livro homónimo de José Saramago - confessa, em entrevista ao Expresso, que não leu o livro que deu origem ao filme. E fê-lo consciente e deliberadamente. Ele acha que um actor não tem de saber tudo, e que em muitos casos é melhor saber apenas o mínimo indispensável.
Fiquei a pensar no que ele disse e tentei adaptar à minha comum existência. Todos os dias leio jornais, oiço rádio, vejo noticias nas televisões. E agora, a mais de meio da vida, e afastado do jornalismo diário, começo a interrogar-me sobre se não seria melhor NÃO SABER algumas coisas. Não sei se muitas ou poucas, talvez nem saiba bem escolher aquelas que preferia ignorar.
Mas dou razão ao actor no que à vida real diz respeito: há informação que seria preferível não saber, não tomar conhecimento, passar ao lado.
A ignorância traz mais vezes felicidade do que se pensa, começo agora a perceber. Tarde demais, receio.