Ter e não ter
Há exactamente 15 anos, depois de todo o processo de construção (de raiz), dormi aqui pela primeira vez. Lembro-me bem da emoção da primeira noite.
Uns anos mais tarde, mais ou menos por esta altura, dormi aqui pela última vez. Lembro-me de misturar desordenadamente alívio e tristeza.
Olho hoje para esta imagem com distância, e sentido relativo: morremos, e as paredes ficam para lá de nós. Leio Schopenhauer em 'A Arte de Ser Feliz' e deixo-me a pensar, enquanto procuro outras paragens...
"Precisamos de tentar chegar ao ponto de ver o que possuímos exactamente com os mesmos olhos com que veríamos tal posse se ela nos fosse arrancada. Quer se trate de uma propriedade, de saúde, de amigos, de amantes, de esposa e de filhos, em geral percebemos o seu valor apenas depois da perda. Se chegarmos a isso, em primeiro lugar a posse irá trazer-nos imediatamente mais felicidade; em segundo lugar, tentaremos de todas as maneiras evitar a perda, não expondo a nossa propriedade a nenhum perigo, não irritando os amigos, não pondo à prova a fidelidade das esposas, cuidando da saúde das crianças etc.
Ao olharmos para tudo o que não possuímos, costumamos pensar: 'Como seria se fosse meu?', e dessa maneira tornamo-nos conscientes da privação. Em vez disso, diante do que possuímos, deveríamos pensar frequentemente: Como seria se eu o perdesse?"